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Meio ambiente: você se considera um eleitor bem informado?

Os candidatos que seguem para o segundo turno da campanha presidencial nunca colocaram como pauta principal os impactos sociais e ambientais causados pelo desenvolvimento econômico – apesar da imagem que tentam agora transmitir. Não estou dizendo que são melhores ou piores por isso, mas que há uma lacuna que precisa ser preenchida. Verdade seja dita, se não fossem os outros candidatos, como Plínio ou Marina, o tema não teria sido colocado nos debates nesta eleição. Bem, não que ele foi posto com a profundidade ou com o viés que deveria ter sido, mas aí já é outra história.

Em qualquer grande partido político, há pessoas que rezam a cartilha do desenvolvimento a qualquer preço e torcem o nariz para aquele patamar mínimo de dignidade que deve ser mantido para as populações prejudicadas em grandes projetos de desenvolvimento. Ei, ei, não estou falando de proteger um bagre e, sim, de cuidar de gente.

Não é a primeira vez que trato disto neste espaço. A humanidade enfrenta a pior crise ambiental de sua história, sob risco de entrar em colapso com o esgotamento e a degradação dos recursos naturais. Os países da periferia levam a culpa pelo desequilíbrio ecológico mundial e são criticados pelo modelo de desenvolvimento que adotam, agressivo ao meio ambiente. O julgamento parte das nações ricas, as quais, por mais de dois séculos, destruíram seus patrimônios naturais e continuam poluindo. As elites dos países periféricos clamam, por sua vez, pelo direito de também poluir, a fim de poder alcançar o nível de consumo das sociedades desenvolvidas.

Nas discussões sobre meio ambiente ainda não se leva em consideração a integração entre homem e natureza. Mesmo que a ação de fiscalização esteja contribuindo para a preservação da fauna e da flora, estamos longe de garantir meios de sobrevivência às populações que dependem desses ecossistemas. A pobreza e a falta de perspectivas ainda levam muitas pessoas a dilapidar o patrimônio natural em busca de sustento para seus filhos, através da captura de animais silvestres no Pantanal, da coleta de palmito na Mata Atlântica ou da produção agropecuária na Amazônia.

Enquanto o Congresso Nacional não dilapidá-la, temos uma das mais modernas legislações ambientais do mundo. O problema é que muitas vezes a lei é deixada de lado ou é mal aplicada por incompetência ou conivência com os infratores – muitos deles financiadores de campanha. Há, por exemplo, denúncias de estudos e relatórios de impacto que teriam sido empurrados goela abaixo dos órgãos responsáveis para facilitar a aprovação de grandes obras, como hidrelétricas e estradas. Além disso, os governos federal e estaduais continuam a apresentar uma contradição entre ação e discurso. De um lado, brada-se pela preservação, de outro financiam-se projetos que expulsam indígenas na Amazônia ou que privilegiam o transporte individual (como a duplicação de pistas em grandes avenidas) em detrimento ao investimento em transporte coletivo, menos poluidor e mas democrático.

O debate sobre o meio ambiente emerge no século 21 como uma discussão sobre a qualidade de vida, não tratando apenas de rios poluídos e derramamento de petróleo, mas também da atual idéia de progresso (alta tecnologia aliada a uma postura consumista) que não está conseguindo dar respostas satisfatórias à sociedade. De forma preventiva ou paliativa, haverá uma mudança no comportamento da sociedade. Faz parte dessa discussão a busca por modelos alternativos de desenvolvimento humano. Que só serão efetivos caso não excluam o povão dos benefícios trazidos pela exploração atual e futura dos recursos naturais do planeta.

Repito: É claro que os países do centro querem que nós arquemos com o ônus da preservação do planeta. O mercado de carbono, na prática, é isso: compra-se créditos de terceiros por aqui (que vão adotar práticas ou projetos que absorvam carbono da atmosfera) para que se possa poluir por lá. Ao mesmo tempo que isso acontece, esses países se beneficiarão do alargamento da já grande distância de desenvolvimento entre o centro e a periferia. Mas o atual modelo, em plena vigência no Brasil, tem um potencial destruidor muito grande, além de ser extremamente concentrador. Ou seja, além de haver uma exploração irracional de recursos naturais e do trabalho humano, o grosso da riqueza continuará indo para as mãos de poucos. E isso não é justo.

Abrace uma árvore, recicle uma latinha e recolha-se, enganando a si mesmo de que isso é suficiente. Ou, melhor, faça valer seu direito de escolha e exija de sua candidata ou candidato um programa de governo que não jogue a qualidade de vida dos seus filhos e suas filhas (e dos trabalhadores e comunidades tradicionais deste país) na lata do lixo.

Fonte: Blog do Sakamoto (http://blogdosakamoto.uol.com.br/)

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